POBREZA DE GLEICI FINALISTA DO BBB18 COMOVE INTERNAUTAS - CONFIRA FOTOS DA SUA CASA NO ACRE



Uma das favoritas ao prêmio de R$ 1,5 milhão no “BBB 18”, a acreana Gleici Damasceno, de 23 anos, leva uma vida muito diferente da que desfruta no reality show. De origem humilde, ela cresceu na zona rural e vive hoje em uma casa simples, de madeira e alvenaria, e três cômodos, com a mãe, o irmão mais velho e a sobrinha de 3 anos na periferia da Baixada da Sobral, uma das áreas mais violentas da capital do Acre.


Mãe Gleici teve câncer no útero e faz tratamento
Foto: Jardy Lopes/Extra

Gleici viu a violência de perto quando o seu pai foi assassinado há três anos, dentro de casa e na frente da irmã mais nova, pelo tráfico de drogas que domina a região. O pai da sister era dependente químico e se separou da mãe dela quando Gleici tinha 6 anos.

Sem internet e TV a cabo em casa

Também há três anos, a mãe, Vanuzia, de 39, foi diagnosticada com um câncer no útero e teve que abandonar o emprego no gabinete de uma vereadora (sua ex-patroa). Para a função, ela ganhava R$ 2 mil, renda essa que era complementada como zeladora da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) à noite. Coube a Gleici assumir as despesas da família.


Irmão de Gleice, Agleuson, de 24 anos, está desempregado
Foto: Jardy Lopes/Extra

Sem internet e TV a cabo em casa, Vanuzia, e o irmão da sister, Agleuson, de 24 e desempregado, acompanham o programa graças à generosidade dos vizinhos, que cederam um ponto de pay-per-view. A casa em que a família aparece assistindo o reality show é de uma das melhores amigas de Gleici, Aline. A acreana tem ainda uma irmã mais nova, Gleiciely, de 19 anos, que vem a ser a mãe da sobrinha da sister. A jovem vive atualmente com o namorado. "Gleici sempre foi a mais ajuizada dos três e me ajuda a cuidar dos irmãos e a criar a sobrinha", conta a mãe.

Sister dorme em uma cama na sala

Cama de Gleici fica na sala da casa, atrás do sofá
Foto: Jardy Lopes/Extra

A casa é protegida por uma cerca de madeira e possui um quarto, cozinha e sala (mobiliada com um sofá simples, a única TV da casa, e a cama da Gleici, que fica atrás do sofá). "Íamos usar o 13º (salário) dela para desmanchar a sala e fazer um quartinho aqui. Era o sonho dela", conta a mãe, que sobrevive atualmente com a ajuda de vizinhos e do dinheiro da exoneração de Gleici no cargo comissionado na Assessoria de Juventude, no Governo do Estado.

Compra fiado em mercearia

Família de Gleici compra fiado na mercearia da região
Foto: Jardy Lopes/Extra

A acreana ganhava R$ 2,700 para sustentar a família, comprar remédios para mãe, pagar contas de água e luz, despesas dos irmãos e suprir a casa de alimentos. Ela também usava o dinheiro para pagar metade da faculdade de Psicologia na universidade Uninorte. Os outros 50% são custeados pelo Fies (programa de financiamento estudantil do Governo). A família Damasceno tem uma conta fiada no mercadinho que fica na frente da casa. "Ela acerta tudo direitinho. É uma menina honesta. Dá gosto de ver”, elogia o comerciante Manoel Malveira.

Família passou fome

A casa da família é própria, fruto do esforço do trabalho de Vanuzia, que durante anos deu duro como empregada doméstica. A matriarca juntou o dinheiro de uma rescisão contratual e conseguiu um empréstimo para comprar o imóvel. Passou anos usando o salário para pagar a dívida. Foi quando a família deu uma melhorada de vida. Até a adolescência, Gleici viveu na extrema pobreza, com a mãe tendo que sustentar sozinha os três filhos e ainda pagar aluguel.


Foto: Jardy Lopes/Extra

"Com um salário mínimo não dá para pagar tudo. Muitas vezes, não tínhamos o que comer. Eu os mandava tomar café na casa de um parente ou outro e. Às vezes, não tinha o que fazer, eu fechava os olhos e deixava ir para escola sem tomar café mesmo”, relembra a mãe, emocionada.

Inconformada com a realidade em que vivia, Gleici decidiu trabalhar aos 12 anos como babá e passou a ajudar nas despesas. Quando fez 15 anos, pediu à mãe um computador de presente. "Queríamos fazer uma festinha pra ela, mas ela preferiu um computador. Trabalhei muito para juntar dinheiro, mas não consegui. Até que um tio se ofereceu para fazer um crediário. A Gleici chorou muito quando viu o computador".

Trabalho comunitário

Bastante estudiosa (foi a única da família a concluir os estudos e entrar na faculdade), ela ganhou do melhor amigo um vestido para a formatura do Ensino Médio. "Ela disse que não tinha condições de ir ao evento porque não tinha um vestido, e eu ofereci o meu, de Miss Acre Gay", conta João Reis, homossexual assumido e líder comunitário.


Gleici em ação solidária no Acre
Foto: Reprodução

"Conheci a Gleici quando ela tinha 15 anos, e tínhamos em comum essa vontade de ajudar as pessoas das comunidades carentes. Às vezes, íamos do bairro até o centro a pé, o que significa longos quilômetros, para fazermos trabalhos comunitários. Parávamos debaixo de um pé de jaca e manga para comermos as fruta, pois não tínhamos dinheiro para comprar comida", relembra: "Mesmo sendo pobre, ela sempre lutou por outras pessoas mais carentes que ela. De um lado, eram nossas mães fazendo de tudo para nos dar de comer, e nós fazendo de tudo para dar de comer aos outros".

O trabalho comunitário cresceu, e Gleici quis criar uma associação e lutou por uma biblioteca comunitária. "O que motivava a Gleici era a história de vida do pai dela, que ela nem gosta muito de falar, mas levava ela a não aceitar aquilo que parecia ser seu destino", acredita o amigo, explicando o motivo da estudante nunca ter tocado no assunto sobre o pai no programa. Gleici também nunca explorou sua vida no reality show. Assim como sister, a mãe não aceita o papel de “coitadinha” para a filha e diz que ela é inteligente, esforçada e determinada:

"Gleici não gosta de ser coitadinha, de ser vitimizada. Ela lutou contra isso a vida toda e sempre disse que seria alguém na vida. A história dela é diferente porque ela nunca se acomodou, nunca se conformou. Minha filha não é a única daqui a passar por essas dificuldades, nem é melhor por causa disso, diz Vanuzia. "A vida toda ela lutou contra o que não aceitava, mas sem se fazer de vítima. Por isso que, às vezes, eu fico até um pouco constrangida de contar realmente tudo que passamos, e as pessoas acharem que estamos falando isso para ela ficar bem no programa. Em cada esquina aqui a gente encontra uma Gleici, mas poucas com a coragem e a determinação dela".

* Matéria original do IBahia

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